PAINEL ELETRÔNICO

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SEU ABEL: O GUARDADOR DE SEMENTES


Seu Antônio Abel da Silva tem 56 anos e é casado com dona Luzia Felício de
Sena Silva. O casal teve seis filhos e uma penca de netos. Alguns moram na
casa deles e outros nas redondezas, mas estão sempre lá. Eles moram na
comunidade de Pedra 2, distante seis quilômetros de Caraúbas, cidade
situada na região Oeste do Rio Grande do Norte, no semiárido brasileiro.

Desde os oito anos de idade seu Antônio Abel trabalha na agricultura e há pelo
menos 40 anos, aprendeu com o seu pai, Cirilo Abel da Silva, já falecido, a
guardar as melhores sementes da safra pra plantar no inverno seguinte. Essas
sementes, guardadas de um ano para o outro, são chamadas de "sementes
crioulas".
 Essa prática está desaparecendo, mas era muito comum antigamente. Seu Abel conta que fazendo a seleção das melhores sementes o agricultor garante sempre ter o melhor plantio e uma melhor safra. Hoje, seu Abel vive num pequeno terreno de 7 hectares, onde trabalha com sua família. Mas nem sempre foi assim. Sua juventude foi trabalhar para os outros junto' com os pais, que viviam como moradores das terras alheias. Ele conta que a situação era difícil, trabalhando todo dia, tirando uma diária que só dava para comer.

Quando ele se casou, aos 19 anos, saiu da casa dos pais e foi morar no terreno do sogro. Lá, construiu urna casinha de taipa para viver com dona Luzia e começou a plantar um
pedacinho de terra. Uma das primeiras coisas que ele fez foi trazer seus pais para perto, para manter a família junta, assim, ficava mais fácil se ajudarem no dia a dia e também no trabalho.

Muito tempo depois, ele começou a juntar umas coisinhas e um dinheirinho e, com muita peleja, construiu de próprio punho, uma casinha na cidade. Ele nunca teve interesse de
morar em Caraúbas, mas sabia que o patrimônio era importante. Então, um dia, surgiu a oportunidade que sempre sonhou: ter o seu pedaço de terra. Próximo a sua, casa, um vizinho estava vendendo uma área de 7 hectares por um valor razoável.
 Seu Antônio Abel não tinha o dinheiro, mas conseguiu quem comprasse a sua casa da cidade,
juntou mais algum dinheiro e pagou o terreno a vista, A área, além de pequena, estava
abandonada, mas (isso não foi problema para o agricultor, que juntou a família e, em pouco tempo, cercou e organizou tudo.

Aproveitando seus conhecimentos na arte de pedreiro, ele foi construindo aos poucos sua
casinha que hoje tem espaço pra todo mundo, um grande armazém e até um alpendre para as boas conversas de Domingo.

Seu Antônio diz que sempre foi apaixonado pela agricultura, embora seja um trabalho sofrido para o pequeno, Seus filhos seguem o mesmo caminho e os que não vivem com ele, moram num assentamento da reforma agrária, próximo à sua casa. A única coisa que seu Antônio Abel reclama é da falta de água na região, mesmo estando entre duas grandes barragens, a de Santa Cruz, no município de Apodi e a de Umari, no município de Upanema. Ele acha que essa água deveria ser distribuída para os agricultores poderem trabalhar.

Dona Luzia Felício também é uma grande trabalhadora rural. Ela faz parte de um grupo de mulheres da comunidade de Pedra 2, que cultiva hortas orgânicas. Como o projeto é novo, ainda não tiveram como guardar as sementes, mas ela conta que esse é um dos planos do projeto. 
 Assim como essas mulheres, seu Antônio também não usa veneno para produzir e há muito tempo, deixou de queimar a terra para plantar. Uma das coisas que o faz manter a tradição de guardar suas próprias sementes é justamente por saber que não têm agrotóxico.

Com as últimas grandes secas, muita semente foi perdida, mas ele ainda tem guardado um pouquinho de semente de feijão, milho; jerimum, sorgo, melancia, castanha de caju e mantém em seu quintal algumas ramas de batata e macaxeira. Seu Abel faz isso para não ficar dependendo do governo que sempre chega depois das melhores chuvas.

Embora acredite. muito em sua agricultura, seu Antônio Abel orienta os amigos a sempre ouvirem o pessoal da assistência técnica. Ele não reclama das dificuldades e acha que muita. gente não  está aproveitando as ajudas que chegam. "O governo e a assistência técnica ajudam, mas é preciso que o povo queira trabalhar pra poder dar certo", conta seu
Antônio.
 A luta desse agricultor ainda não acabou, mas ele se vê como alguém que venceu as dificuldades antigas Cuidadoso com o que faz, está sempre aproveitando o que sabe para melhorar sua vida e a vida da família.
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O ACESSO A TERRA DAS FAMÍLIAS DE GLÊNIO SÁ



O acesso à  terra própria é um sonho para muitas famílias  nordestinas, mas  uma  realidade  para aqueles  que  têm  coragem  de  trabalhar  e
procuram  se  associar.   O  projeto  de assentamento  Glênio  Sá,  na  zona  rural  de Caraúbas,  no  semi-árido  do  Rio  Grande  do Norte, é um exemplo de como a união garante terra mesmo para quem se considera pequeno.
 A luta pelo assentamento Glênio Sá começou em 2003  



Tudo começou em 2003, com os primos Antônio Carlos  e  Josivan  Antônio  da  Silva.  Eles moravam  com  os  pais  nas  terras  que  um  dia foram  dos  avôs.  Pequenas  propriedades  de pouco mais de 20 hectares numa região seca.
Antônio  Carlos  tinha  o  sonho  de  um  dia conquistar seu próprio pedaço. No caminho do município de Campo Grande, a 30 quilômetros de Caraúbas, um terra grande e improdutiva sempre chamava a sua atenção. Foi esse sonho que o levou a conhecer o Crédito Fundiário, do governo  federal. O programa oferece condições para que os trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra possam comprar um imóvel rural por meio de um financiamento.



Primos Josivan e Antônio Carlos que começaram a luta
Nessa época, dois ou  três assentamentos começavam a se  formar nesse sistema. Foi aí que Antônio Carlos e Josivan decidiram formar uma associação. Não foi difícil juntar 20 pessoas, praticamente todos  da  família,  que  viviam  nas  mesmas  terras  de  herança  ou  já  trabalhando  para  outros proprietários.

O  processo  da  compra  da  terra  começou  em 2003, com apoio técnico da ATOS (Assessoria, Consultoria  e Capacitação Técnica Orientada Sustentável), que ajudou a fundar a Associação Rural de Desenvolvimento Sustentável Glênio Sá. Mas, devido a problema com documentação de uma associada o processo se arrastou por três anos, só sendo concluído em 2006.


A  terra  de  pouco  mais  de  800  hectares  foi dividida em partes iguais para os 20 sócios, que ficaram com 43 hectares cada. Ao todo, foram liberados 360 mil reais para todas as famílias. 190 mil foi para pagar a terra e 170 mil reais a
fundo  perdido  para  implantação  de  casas, cercas  e  patrocinar  outros  projetos.  Assim todo ano, eles precisam depositar uma parcela
de R$ 9.300  (nove mil e  trezentos  reais) ou pouco mais de R$ 400  (quatrocentos  reais) por ano,  com  os  descontos  que  chegam  a  50%
(cinqüenta  por  cento)  do  valor  da  parcela anual.

Antônio Carlos disse que no começo não  foi fácil. A falta de experiência e de condições nos primeiros dois anos  fez gerar muitos conflitos e duas pessoas desistiram, sendo substituídas. Mas,  logo  que  tudo  foi  regularizado  e  eles
tiveram  acesso  ao  Programa  Nacional  de Fortalecimento  da  Agricultura  Familiar (Pronaf),  tudo começou a melhorar.


Rita Ferreira lembra que quando foi morar na propriedade ainda não tinha energia elétrica em casa, mesmo assim resistiu na  luz da  lamparina. Hoje, quando vê suas vaquinhas, as galinhas, a carroça e os projetos coletivos, sabe que valeu a pena cada esforço. O mesmo viveu dona Rita Gomes. Viúva, quase não consegue ser aceita na associação, mas provou que tem tanto braço e disposição quanto os homens para  fazer a área produzir, ainda que com  três  filhos menores. Plantando com seu pai, que tem um  lote ao  lado do seu, colheu, só neste ano, sete  tambores de  feijão.

 
 Rita Gomes conquistou sozinha a terra com três filhos pequenos
Os homens  iniciaram um projeto de criação de caprinos e as mulheres montaram uma horta coletiva, cujo excedente é vendido na Feira da Agricultura Familiar de Caraúbas. Os agricultores e agriculturas também  trabalham  com  apicultura,  cajueiro,  criação  de  pequenos  animais  e  esperam  ainda  a
implantação de um projeto de beneficiamento de polpa e criação de peixe em  tanques-rede no pequeno açude da  localidade.

Além  de  ter  onde  produzir,  as  famílias  de Glênio    aprenderam  a  valorizar  a  terra, priorizando  a  produção  agroecológica  e, principalmente,  a  soberania  alimentar.  Seu Edilson José Gomes, por exemplo,  tem uma
horta no  terreiro da  frente de cada. De  lá ele  tira tomate, pimentão, pimentinha e vários outros temperos que servem para seu alimento e dos
vizinhos.

As  famílias  de  Glênio    ainda  têm  muitas dificuldades  para  vencer,  mas  no  que depender da vontade, do esforço e do  trabalho, nunca  vai  faltar  nada  para  eles  continuarem vivendo a  tranqüilidade da  terra própria. 


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

BANCO DO NORDESTE AGÊNCIA APODI RETOMA AS ATIVIDADES


Recebemos a informação que o Banco do Nordeste Agência Apodí-RN, retomou suas atividades e normalizou o atendimento ao público depois de uma greve que aconteçeu no  dia 25 de setembro, o atendimento no horário de 10 as 15 horas.